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A dama e o vestido escarlate

O escarlate do vestido ressaltava os lábios rosados e carnudos daquele ser angelical que de anjo não tinha nada...

Conheci a morte lá na esquina do sobrado. Estava passando por lá quando já era muito tarde; a hora não importa; quem me apresentou a morte foi o destino.


Como ia dizendo, estava atravessando o beco escuro e [de repente] me aparece o destino com uma amiga muito bonita; o vestido de veludo que caia muito bem na dama que o vestia tinha a cor do pecado. Sim... O escarlate do vestido ressaltava os lábios rosados e carnudos daquele ser angelical que, por sinal, de anjo não tinha nada.


O destino bem trajado interrompeu a contemplação do ser mais bonito que já existiu na face da terra, por dizer três simples mensagens:


“A beleza é atraente e perigosa”;


“O coração é traiçoeiro, mas muitas vezes se engana”;


“Uma boa armadilha se esconde atrás de uma linda mulher”.


Sem dizer mais nada, ele foi embora me deixando contemplar por um bom tempo a morte. Feições lindas, beleza única, porém, só uma coisa me intrigou nela: em momento algum ela ousou me olhar nos olhos.


Não me peça detalhes, pois não saberei explicar; a morte foi embora em silêncio, assim como o destino.


Todas as noites eu sonho com os lábios rosados e o vestido de cor escarlate. Eu desejo ardentemente aquela mulher; mas como a encontrar? Eu não sabia. O tempo foi passando e com ele a minha alegria, a minha esperança, enfim... A minha vontade de viver.


Contudo, ontem – quando estava passando por uma viela no bairro Lago das Rosas – eu a vi; estava tão bela e angelical como na primeira vez que havia visto. Tentei falar com ela e declarar o meu amor, mas quando eu fiz menção em ir à sua direção, ela olhou para mim. Então, congelei.


O olhar dela era profundo, enigmático e os lábios rosados – que sonhei longas horas beijá-los – exibiam um sorriso frouxo e cínico; meu anjo tinha perdido as feições doces e se mostrara uma mulher astuciosa.


Antes que eu saísse do transe que o olhar dela me fez entrar, ela acenou para que eu a seguisse. Então, sem dizer nenhuma palavra, eu fui percorrendo becos e ruas desconhecidos, mas nada me importava porque tinha encontrado novamente o meu anjo. De repente, ela parou num beco sem saída e me esperou; aproximei-me dela, tomei-a em meus braços, senti o corpo dela junto ao meu e tive certo alívio por comprovar que não era um sonho, pois em meus braços eu tinha a mulher que amava. Sem dizer uma única palavra, nossos lábios se colaram num beijo ardente e eterno.


O tempo sempre me disse que a morte era uma linda mulher; eu nunca tinha acreditado.


Então, o que é possível ser feito quando se tem de escolher entre morrer de amor por uma mulher e viver ao lado dela e esperar que esse amor não acabe?


Talvez – por fim – amar a morte, viver esperando por ela e com um beijo cândido, ter um doce morrer.


Cleisianne Leite.

Fomanda em Biblioteconomia.

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