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A ideologia simplificadora

O mundo é mal interpretado por causa da ideologia, como se estivesse confundindo o desenho de uma casa com a casa real...

A atual década tem sido desafiadora, apesar de todos os avanços tecnológicos e educacionais. Muitas vezes, as mídias acabam gerando desinformação ou ideologia, o que se tornou comum na política, pois qualquer coisa com a qual não concordamos é rotulada de ideológica. No entanto, muitas vezes falta entender o que é ideologia; e, embora haja muitos autores e sistemas de pensamento que tratam do assunto, vamos nos concentrar no essencial, seguindo o princípio de Nietzsche em "A Vontade de Potência" de buscar simplicidade, clareza no pensar, no falar e no procurar a grandeza.

O problema com a noção de ideologia começou com a publicação do primeiro volume de "Fundamentos da Ideologia" por Antoine Destuttde Tracy, em 1801. Na época, ideologia era vista como uma ciência das ideias, incluindo estados de consciência e percepções sobre si e o ambiente. As ideias eram vistas como resultados naturais da interação do ser humano com a natureza. Destutt apontou percepção, memória, vontade e razão como elementos fundamentais na formação das ideias. Porém, a palavra mudou de significado e passou a ser vista como falsa consciência, resultado da influência das classes dominantes. A ideologia é, atualmente, vista como a inversão da realidade pelo pensamento.

O mundo é mal interpretado por causa da ideologia, como se estivesse confundindo o desenho de uma casa com a casa real. A arte de René Magritte, por exemplo, ilustra esse ponto com sua pintura "Ceci n’est pas une pipe". A ideologia, segundo Karl Marx, é uma troca entre o real e o ideal que ocorre por meio de uma abertura entre o mundo externo e o interior, psicológico, afetivo e representacional; é a mudança de perspectiva diante do mundo que permite a ideologia, trocando a realidade pelo ideal. Se há ideologia, então há uma lógica maliciosa preenchendo esse espaço, invertendo a realidade para atender aos interesses das classes dominantes.

De acordo com Marx (1818-1883), a ideologia é uma inversão entre o real e o ideal que ocorre por meio da troca de sinais. Ele argumenta que a ideologia é maliciosa, pois inverte propositalmente a realidade; mas, essa ideia pode ser comparada ao conto "Ideias de Canário" de Machado de Assis, onde um canário mudava sua percepção do mundo conforme sua situação. Desta forma, não há um mundo verdadeiro, pois nossa percepção é influenciada pelas nossas experiências.

Nas redes sociais, diferentes grupos políticos têm certeza de sua verdade, mas estão em oposição entre si. A professora e filósofa brasileira Marcia Tiburi argumenta que não há imparcialidade e que todos nós estamos orientados por uma ideologia, ou por um viés. No entanto, essa afirmação é sempre direcionada à oposição. A crença de saber o que é a ideologia pode tornar alguém insensível à sua própria ideologia. A esquerda, por sua vez, não tem o hábito de autocrítica e não é institucionalizada para fazer isso.

Apesar de a esquerda denunciar constantemente a ideologia presente nos trabalhos de professores universitários brasileiros, como Rita Von Hunty, Marilena Chauí, José Paulo Netto e Safatle, a ideologia persiste e eles mesmos parecem participar em graus variados. O esforço para resolver o problema da natureza do real, tratando-o como concretude ou matéria, parece insuficiente para tornar claro o mundo mental (idealidade) como resultado da materialidade, pois a superestrutura (dimensão cultural controlada pela classe dominante) suprime o caráter material da classe trabalhadora. O pensamento da esquerda é utópico e ainda tem uma pequena crença no progresso. Edgar Morin, pensador francês, propõe uma teoria da complexidade cibernética para deslocar o pensamento bilateral da direita vs esquerda para uma relação mais rica. Em vez de ver a realidade como resultado de relações dialéticas, Morin propõe relações dialógicas acopladas a operadores recursivos e holográficos. O operador dialógico entrelaça diversidade, o operador recursivo significa que um efeito pode afetar a causa e o operador hologramático significa que a parte e o todo estão interligados. Morin busca suprimir a base histórica e tornar o mundo um lugar melhor. Seu livro "O Método, volume Natureza da Natureza" trata o assunto aprofundadamente.


A ideia de ideologia é questionada no Brasil, tanto por aqueles que a combatem quanto pelo próprio combate ideológico [em que a ideologia está sempre do outro lado]. A ideologia é fundamentalmente uma simplificação da complexidade histórica, cultural e da experiência, como afirmou Daniel Bell ao chamar ideólogos de "terríveis simplificadores". A ideologia restringe a compreensão da realidade a uma única visão dos fatos e, quando apoiada por fervor apocalíptico, pode se tornar uma arma perigosa. O objetivo não é discutir sobre o comunismo, mas destacar como o acreditar demais na verdade material da matéria pode produzir o oposto do desejado. O pensamento de Morin é valioso ao pensar em fenômenos biopsicossociais e históricos, pois luta contra a cegueira da ideologia.


Em resumo:


Este texto está falando sobre o problema da ideologia e desinformação na atualidade, com muitos recursos tecnológicos e avanços na educação. A ideologia é uma coisa que tem sido discutida há muito tempo, desde 1801, quando um autor chamado Antoine Destutt de Tracy escreveu sobre ela. Naquela época, ele achava que a ideologia era uma ciência das ideias, mas ao longo do tempo, a ideia mudou e agora a ideologia significa uma ideia errada do mundo. As pessoas têm ideias erradas porque vêm das classes mais poderosas; é como uma pessoa que pensa que um desenho é uma casa, mas na verdade é apenas um desenho. A ideologia é quando a gente troca o que é real pelo que é ideal. É como a pintura de um artista chamado René Magritte que mostra um charuto, mas diz que não é um charuto. A ideologia é uma troca entre o real e o ideal, como se fosse uma brincadeira com sinais; mas, às vezes, essa brincadeira é maliciosa e pode ser perigosa. Maliciosa por seus efeitos, assim como pela simplificação da complexidade num sistema unilateral de pensamento, no qual os adversários estão – necessariamente – errados.


Thiago Carvalho.

Psicólogo e pós-graduando em neuropsicologia.



1 Comment


Guest
Apr 03, 2023

Maravilhoso!

Essa ausência de auto crítica de fato atesta contra os militantes que aponta o erro alheio, mas não consegue se avaliar nos mesmos termos. Descrição sucinta informativa e necessária.


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