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A Linguagem, a Caverna e o Infinito

Atualizado: 25 de jul. de 2024

A linguagem pode e deve ser a destrava do ferrolho que nos mantém presos às correntes da nossa própria caverna...

De acordo com o filósofo Ludwig Wittgenstein (1889 – 1951), os limites da linguagem são os limites do mundo.


As coisas não fazem sentido quando vistas de maneira isolada e, sem frases, não há o conceito. Nossos pensamentos não se sustentam fora de nós mesmos, senão por intermédio da oralidade. E assim vejo perante meus pacientes ao relatarem uma intervenção ou, em meio a olhares atentos, durante uma explanação em sala de aula.


Pensando em termos pedagógicos, ainda hoje muitos agem com desinteresse às palavras, seja por desmotivação, ou pelo acesso limitado à cultura. Assim, certamente, ficarão à mercê daqueles que utilizam, justamente, a linguagem para manipulá-los.


O "ouvir através da leitura", bem como o "dizer através da escrita" são maneiras de ampliar e explorar os nossos limites.


Restringir bons educadores é também fazer da linguagem uma refém dentro de um universo delimitado por aqueles que detêm as canetas do poder. Cabe aos governantes ampliar as possibilidades educacionais, a fim de não confinar as temáticas e a linguagem ("o que se pode ler... O que se pode dizer"), desvencilhando-se dos vieses políticos.


Limitar é ocultar o que está para além dos (cada vez mais sólidos) pórticos da ignorância.


Pensando em leitura, observo que o desconhecimento das palavras inseridas num texto literário, muitas vezes, é motivo do desapreço por uma obra, quando deveria ser motriz para o entusiasmo de um novo aprendizado. Faz-se, desse modo, um pacto com a insciência.


A linguagem pode e deve ser a destrava do ferrolho que nos mantém presos às correntes da nossa própria caverna, numa analogia com a "Teoria dos Ídolos", de Bacon (1561 – 1626). Porém, sem o conhecimento, estaremos expostos aos campos minados, espargidos pelos caminhos que conduzem à verdade.


Destarte, Francis Bacon também nos alerta para a correta interpretação do que nos cerca. O empírico é fundamental para o conhecimento, desde que aprendido sem as distorções habituais (influenciadas pelos padrões cerebrais), pois entendimentos imprecisos geram linguagens enviesadas.


Assim, lutar contra os fatores limitantes da linguagem rompe barreiras, produz sinapses, referenciam informações e privilegiam a nossa subestimada cognição.


É, enfim, capacitar à reflexão e trazer luz a discussões numa sociedade dilacerada pelos extremos e alimentada pelo ódio torrente da polarização. Só assim, deixaremos a caverna que também nos habita, enquanto buscamos as infinitas possibilidades que o universo apresenta.


E…


Em uma jocosa e simplificada adaptação do senso comum, "colocar o 'tik' e o 'tok' para funcionar".



Marcelo Kassab.

Escritor e Cirurgião dentista.




1 Comment


Anderson Cruz
Anderson Cruz
Jul 25, 2024

Texto conciso e, mas para refletirmos profundamente sobre a linguagem que constituímos. Parabéns, como sempre digno de aplausos.

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